


SHIMAMOTO: MESTRE DO QUADRINHO BRASILEIRO
A exposição Shimamoto: Mestre do Quadrinho Brasileiro está em cartaz na Vila Cultural Cora Coralina até o dia 9 de outubro.
Lançada na última quinta-feira, ela traz cerca de 200 originais que contam um pouco dos 60 anos de trajetória desse ícone das HQs no país.
O horário de visitação é das 9h às 17. A Vila Cultural Cora Coralina está localizada na Rua 23 esq com a Rua 3, no Centro, em Goiânia (Goiás). A entrada é franca.
Confira um pouco do que te espera na reportagem da TBC.
SHIMAMOTO
Mestre do Quadrinho
Brasileiro
GIBIRAMA apresenta a exposição de originais de Julio Shimamoto, ícone dos quadrinhos nacionais.

SHIMAMOTO: MESTRE DO QUADRINHO BRASILEIRO
Por Márcio Paixão Júnior
Mestre em Comunicação (UnB) e Doutor em Arte e Cultura Visual (UFG). Produtor Cultural e co-fundador da MMarte Produções, escreveu o roteiro da graphic novel Cidade de Sangue (2018), desenhada por Julio Shimamoto.
Quantos autores podem sustentar, de forma inquestionável, o título de legenda dos quadrinhos brasileiros? Julio Yoshinobu Shimamoto pode. Com uma extensa carreira, nascida ainda nos anos 1950, Shima transitou livremente pelos mais distintos gêneros, do terror ao erótico, do infantil ao policial, do regional às artes marciais. Difícil encontrar tema ou objeto que tenha escapado à visceralidade de sua arte. Mas não foi apenas no quesito gênero que Shima se revelou um eterno explorador. Seus quadrinhos sempre se valeram das técnicas mais ousadas e improváveis, muitas delas criadas por ele próprio. Distorção em bexigas, fuligem, raspagem de azulejos e cerâmicas, cera de vela, cola de sapateiro, tinta de parede, recortes, pregos, água sanitária. Tudo se converte em ferramenta e material nas incansáveis mãos deste samurai em contínua reinvenção. Reduzir Julio Shimamoto a um mero quadrinista seria, portanto, um equívoco. Shima é mais. Shima é um artista – na verdadeira acepção da palavra. Ultrapassando seis décadas de trabalho ininterrupto, experimentou diferentes abordagens e estilos, sem jamais se acomodar. Tão logo uma técnica é dominada, imediatamente parte rumo a outros desafios. Tédio e conforto, inimigos mortais. Como ele mesmo diz: “Ateio fogo sobre pontes que já atravessei”. A fuga constante de qualquer arte asséptica, fria e perfeitamente calculada é outro pilar da obra de Shimamoto. O que o move é uma urgência ímpar, transbordante de espontaneidade. Ainda que esbanje maestria, suas visualidades são carregadas da mesma imperfeição, ruído e violência que se encontram na matéria-prima da vida. Há uma expressão oriental para isso que é muito cara a Shima, ao mesmo tempo em que traduz com precisão seu labor artístico: shibumi. No lugar de pigmentos importados, tinta de parede. Ao invés de papel 100% algodão, o verso de um sulfite usado. Pincéis de pelo de marta? Shima prefere produzir os seus próprios, eventualmente com cerdas de escova de dente. Toda vez que se coloca diante de uma folha em branco (ou qualquer outro suporte, por mais inusitado que seja), o que nasce ali é pura invenção artística. Comparações entre HQs e cinema são usuais, mas nem sempre desejáveis. Primo pobre, os quadrinhos geralmente acabam em posição de subserviência. Há, contudo, um paralelo inescapável neste caso em particular. Se existiu no Brasil um Cinema de Invenção – termo criado pelo saudoso crítico Jairo Ferreira para os filmes experimentais, à margem do cinemão, dirigidos por nomes como Rogério Sganzerla, Andrea Tonacci e Carlos Reichenbach, – o que Julio Shimamoto sempre produziu foi um Quadrinho de Invenção. A exposição SHIMAMOTO: Mestre do quadrinho brasileiro realiza um ambicioso sobrevoo sobre a longeva carreira daquele humilde filho de imigrantes japoneses nascido em Borborema, interior de São Paulo, em 1939. Nela estão explícitas a força gestual de seu traço, bem como sua inaudita inquietude criativa. Aos 83 anos de idade, Shima segue produzindo sem tréguas. Em seus olhos ainda brilham as fagulhas do fogo criador – vigorosamente afirmando que a potência da arte não reside nos temas ou materiais, mas sim na alma do artista. Márcio Paixão Júnior Mestre em Comunicação (UnB) e Doutor em Arte e Cultura Visual (UFG). Produtor Cultural e co-fundador da MMarte Produções, escreveu o roteiro da graphic novel Cidade de Sangue (2018), desenhada por Julio Shimamoto.